Allan Kardec

Nascimento

Hippolyte Léon Denizard Rivail, mundialmente conhecido pelo pseudônimo ALLAN KARDEC, nasceu na cidade de Lyon (França), no dia 03 de outubro de 1804. Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail e Jeanne Louise Duhamel.

 

Formação escolar

Com a idade de dez anos seus pais o enviaram a Iverdon, cidade suíça do cantão de Vaud, a fim de completar e enriquecer seus estudos no célebre Instituto de Educação ali instalado, em 1805, pelo professor Johan Heinrich Pestalozzi. O Instituto de Iverdon funcionava num castelo, próximo ao lago de Neuchâtel, tendo sido freqüentado por grande número de estrangeiros, citado, descrito, imitado como escola modelo da Europa.

 

De Iverdon a Paris

Não se sabe ao certo quando Rivail deixou Iverdon, de retorno à França, nem porque instalou-se em Paris, o que talvez tenha acontecido por preferir ficar na então cidade centro cultural do mundo. Vários indícios apontam a possível saída de Rivail do Instituto no ano de 1822, portanto com dezoito anos de idade. Sabe-se que em janeiro de 1823 ele já residia à rua da Harpa, 117, um dos principais eixos da vida universitária parisiense.

 

Seu primeiro livro

Sem dúvida, chegando à capital da França, Denizard Rivail logo se pôs a exercer o magistério, aproveitando as horas vagas para traduzir obras inglesas e alemãs e para preparar o seu primeiro livro didático. Não tardou que em 1º de fevereiro de 1823 fosse relacionado na Bibliografia da França o prospecto intitulado Curso Prático e Teórico de Aritmética, conforme os princípios de Pestalozzi, dando origem ao livro de mesmo nome publicado ainda naquele ano a 6 de dezembro. Denizard Rivail enuncia no livro os seis princípios que o guiaram na elaboração da obra, de acordo com o método pestalozziano:

  • 1º – Cultivar o espírito natural de observaçção das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam.
  • 2º – Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo as regras.
  • 3º – Proceder sempre do conhecido para o dessconhecido, do simples para o composto.
  • 4º – Evitar toda atitude mecânica, levando oo aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz.
  • 5º – Conduzi-lo a apalpar com os dedos e comm os olhos todas as verdades. Este princípio forma, de algum modo, a base material deste curso de aritmética.
  • 6º – Só confiar à memória aquilo que já tenhha sido aprendido pela inteligência.

 

Rivail e o Magnetismo

O magnetismo animal, também conhecido por mesmerismo, visto ter sido Franz Anton Mesmer, doutor pela Universidade de Viena, o seu mais célebre renovador nos tempos modernos, esteve em voga nos fins do século XVIII, adquirindo maior impulso na primeira metade do XIX. Rivail estuda o magnetismo e adere à sua prática junto com famosos pesquisadores ligados à Faculdade de Medicina de Paris, como Puységur, d`Eslon, Deleuze, Du Potet e Millet, dedicando seu tempo ao sonambulismo e outros fenômenos provocados pela ação do agente magnético.

 

Diretor de Escola

É em meados de 1825 que Denizard Rivail começa a dirigir a Escola de Primeiro Grau, dedicada ao ensino primário, não havendo registros sobre quanto tempo durou essa experiência. Logo após, em 1826, fundou a Instituição Rivail, um instituto técnico, funcionando até 1834.

 

Madame Rivail

Em 6 de fevereiro de 1832, Denizard Rivail casou-se com Amélie-Gabrielle Boudet, nascida a 23 de novembro de 1795, portanto mais velha que o esposo aproximadamente nove anos. Amélie era formada como professora e escrevera até então três obras: Contos Primaveris (1825), Noções de Desenho (1826) e O Essencial em Belas Artes (1828), passando desde a data do casamento a auxiliar Denizard Rivail na direção do Instituto.

 

Trabalhos, Academias e Livros

Muito conhecido pelo seu senso moral elevado e por seu incessante trabalho no campo da educação, dedicou-se Rivail a também fazer traduções de obras literárias e a dar aulas gratuitas em sua residência, além de ter dedicado parte de seu tempo em atividades comerciais de contabilidade.

Entre diplomas e prêmios, Denizard Rivail foi membro correspondente ou efetivo das seguintes sociedades e academias: Sociedade Gramatical; Sociedade para a Instrução Elementar; Sociedade de Previdência dos Diretores de Instituições e Pensões de Paris; Sociedade de Educação Nacional; Instituto de Línguas; Sociedade das Ciências Naturais de França; Sociedade Real de Emulação, de Agricultura, Ciências, Letras e Artes do Departamento do Ain; Sociedade Promotora da Indústria Nacional; Sociedade Francesa de Estatística Universal; Academia da Indústria Agrícola, Manufatureira e Comercial; Instituto Histórico; Academia de Arrás.

 

Como escritor na área pedagógica, Rivail publicou os seguintes livros:

  • Curso Prático e Teórico de Aritmética (1824);
  • Curso Completo Teórico e Prático de Aritmética (1845);
  • Escola de Primeiro Grau (1825);
  • Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública (1828);
  • Os Três Primeiros Livros de Telêmaco (1830);
  • Gramática Francesa Clássica (1831);
  • Memória sobre a Instrução Pública (1831);
  • Qual o Sistema de Estudos mais em harmonia com as Necessidades da Época? (1831);
  • Programa dos Estudos segundo o Plano de Instrução de H.L.D. Rivail (1838);
  • Manual dos Exames para os Certificados de Capacidade (1846);
  • Soluções dos Exercícios e Problemas do Tratado Completo de Aritmética (1847);
  • Projeto de Reformas referente aos Exames e aos Educandários para Mocinhas (1847);
  • Catecismo Gramatical da Língua Francesa (1848);
  • Gramática Normal dos Exames (1849);
  • Ditados Normais dos Exames (1849);
  • Ditados da Primeira e da Segunda Idade (1850);
  • Curso de Cálculo Mental (1845);
  • Programa dos Cursos Usuais de Física, Química, Astronomia e Fisiologia (s/d); 19) Programa dos Estudos de Instrução Primária (s/d) e Tratado de Aritmética (1847).

 

Surge Allan Kardec

Foi em 1855 seu contato com os fenômenos mediúnicos de efeitos físicos, as chamadas mesas girantes, quando, após dois anos de estudos e pesquisas, lançou em 18 de abril de 1857 a obra O Livro dos Espíritos, utilizando o pseudônimo Allan Kardec, entregando ao mundo o Espiritismo ou Doutrina Espírita.

O Prof. Rivail, conforme palavras dele mesmo, teve contato com os fenômenos das mesas girantes em 1854, através das informações de seu amigo Fortier, também magnetizador. Esse fenômeno dava-se durante reuniões familiares ou sociais, quando as pessoas reunidas viam as mesas levantarem sozinhas do chão, darem voltas na sala, subirem e descerem, daí o nome mesas girantes. No início Rivail considerou que estava diante de uma ação magnética desconhecida, dizendo: “É extraordinário, não há dúvida. Mas, em rigor, é um fato que não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode muito bem atuar sobre os corpos inertes e faze-los mover-se.”

Algum tempo depois ele foi informado que além das mesas girarem, elas também respondiam, através de pancadas no chão, perguntas das pessoas presentes na reunião, o que considerou extraordinário e digno de pesquisa, que efetivamente deu início no ano de 1855, no mês de maio, ao participar de uma reunião na casa da Sra. de Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, 18, às 20 horas. Não mais parou, tentando identificar a causa dos fenômenos e as surpreendentes respostas, que começaram a ser dadas através da escrita por intermédio das irmãs Baudin.

Rivail nunca teve uma idéia preconcebida, foi o próprio fenômeno que desvendou seu mistério, ao informar que a causa dos fenômenos era a ação de um Espírito, ou seja, a alma de uma pessoa que já havia vivido e que continuava sua vida depois da morte.

 

O Livro dos Espíritos

Em 1856 passou a freqüentar também as reuniões em casa do Sr. Roustan, à Rua Tiquetone, encontrando ali a sonâmbula senhorita Japhet. Dos estudos realizados nesses dois anos Rivail percebeu que os mesmos tomavam a proporção de um livro, mas que era preciso revisá-los da forma mais ampla possível, o que ocorreu com a utilização de mais de dez médiuns, todos desconhecidos entre si. “Foi através da comparação e da fusão de todas aquelas respostas coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação que aprontei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, publicada a 18 de abril de 1857.” Nessa primeira edição O Livro dos Espíritos foi publicado com 531 perguntas e respostas, divididas por temas. A segunda edição, revista e ampliada, foi considerada por Rivail como definitiva, possuindo 1.019 perguntas e respostas.

 

O novo nome

Sendo muito conhecido como professor e escritor, Rivail decidiu lançar O Livro dos Espíritos utilizando um pseudônimo: Allan Kardec, que teria sido seu nome quando encarnado entre os druidas, na região das Gálias, durante o antigo Império Romano. Com isso, colocando-se no anonimato, desejava que o público e a crítica analisassem a obra com isenção, sem se prenderem na figura do autor, o que de fato aconteceu. A partir dessa ocasião Rivail foi substituído por Kardec.

O primeiro Centro Espírita

 

Os adeptos da nova doutrina – Espiritismo ou Doutrina Espírita – reuniam-se na casa de Kardec, à Rua dos Mártires chegando a serem 30 pessoas, o que deixava o local pequeno. Foi assim que Allan Kardec e outros companheiros decidiram fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1º de abril de 1858, tendo sua sede no Palais-Royal, Galeria de Valois, até que, depois de uma primeira mudança, veio a instalar-se em sede própria na Rua e Galeria Sant´Anna, 59, em 1º de abril de 1860.

Diversos príncipes estrangeiros e outras distintas personagens freqüentavam a Sociedade, que tornou-se o núcleo de pesquisa e divulgação do Espiritismo.

 

Os outros livros de Kardec

Na seqüência, após O Livro dos Espíritos, os seguintes livros foram publicados:

  • O Livro dos Médiuns (1861).
  • O Evangelho segundo o Espiritismo (1864).
  • O Céu e o Inferno (1865).
  • A Gênese (1868).
  • Além desses, devem ser considerados também: O Que é o Espiritismo; Introdução ao Estudo dos Fenômenos Espíritas e Viagem Espírita em 1862, além da coleção anual dos números da Revista Espírita.

 

Uma revista para o mundo

Com o progresso do Espiritismo, Allan Kardec teve a intenção de publicar um jornal espírita, e foi aconselhado pelos Espíritos Superiores a fazer o trabalho com cuidado e seriedade, pois o jornal seria um poderoso auxiliar na divulgação e na pesquisa espírita. Kardec então decide-se em redigir o primeiro número, trocando a idéia de um jornal pela de uma revista, e assim faz aparecer a 1º de janeiro de 1858 a Revista Espírita, que mensalmente ele iria editar por mais de 12 anos. O primeiro número saiu com o comprometimento de suas economias, mas os pedidos de assinatura vieram de todas as partes da Europa, tornando a Revista um sucesso.

 

Cartas e viagens

A troca de correspondência cresceu tanto que Kardec, através da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foi obrigado a contratar um secretário, pois, principalmente a partir de 1860, não conseguia mais conciliar os estudos e pesquisas com as atividades de redação e secretariado, embora já estivesse aposentado e dedicasse seu tempo somente para o Espiritismo.

Foi nesse período que empreendeu algumas viagens de propaganda da Doutrina pelo interior da França, sendo a mais famosa e longa a realizada no ano de 1862, cujos discursos foram posteriormente publicados. Essas viagens foram muito importantes para consolidar os grupos familiares de estudo do Espiritismo que se disseminavam pelo país, além de fazer com que vários deles se transformassem oficialmente em Centros Espíritas. 1869: chega ao fim sua missão

Sofrendo há algum tempo do coração, Allan Kardec projetava, após o lançamento do livro A Gênese, inaugurar a nova sede da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujos preparativos estavam adiantados, e que ocuparia uma Vila, inaugurando ali a primeira livraria espírita do mundo. A data escolhida foi o dia 1º de abril, mas seu coração bateu pela última vez no dia 31 de março de 1869, numa cena marcante: era manhã, e ele preparava sua mudança, quando atendeu um portador que vinha retirar uma encomenda de livros. Pegou o pacote em sua escrivaninha e ao dirigir-se ao portador, sentiu forte dor no peito e caiu ao chão. Socorrido pelo seu médico e amigo Delanne, este já o encontrou sem vida. O missionário havia retornado ao mundo espiritual.

Sua esposa Amelie Boudet, cumprindo o ideal de Allan Kardec, antes do enterro do corpo, retirou-se do velório para, junto dos amigos espíritas, inaugurar a livraria espírita. De 1855, quando do início das pesquisas, até 1869, Allan Kardec trabalhou incansavelmente para deixar ao humano a doutrina que iria revolucionar o ser e a vida, projetando em pleno século XIX o futuro da humanidade: o Espiritismo.

Fonte: http://familiamundial.homestead.com/Kardec.html